quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para que os chocolates não se façam necessários

A cada um de vocês divido este pedaço de chocolate da velha moça na porta de acesso ao metrô. A cada um de vocês, divido esta culpa velada de ver esta situação e não poder oferecer nada em troca, e não ser um texto. "Aceita troco em moeda?". Não, minha senhora. Eu que estou em débito contigo. Como antes pude reclamar do ar condicionado onde ganho a vida, no Itaim?

Sua opinião sobre mim deve piorar se lhe dizer que pensei em passar reto e só lhe encaminhar um pensamento distante de pena. É um pena sentir pena. Pior deve ser sentir fome. É no mínimo engraçado pensar que, apesar de vender chocolates, eu tenha saído um tanto quanto amargurado do nosso encontro. Em um país que não se previne (se redime), resolvi apontar dedos e nos denunciar culpados por você não estar vendo a chata novela das 7. Funciona no Distrito Federal, pelo menos. Quem sabe dessa maneira, os chocolates não se façam mais necessários.

Essa sua voz sussurante que, mesmo quase sendo abafada, foi oníssona em me contar que esta cidade respira egoísmo. Na saída, ela me lembra para não esquecer o que comprei. O Suflair é só detalhe, moça. Não vou esquecer de você, nem de suas rugas que me sinalizam dessa experiência que já deveria ter sido recompensada. E não com 2 reais.

Guilherme Vilaggio Del Russo

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Protesto

Sinto uma crônica falta de ar. Uma dose inútil de banho gelado pra quem, de tão cansado, se revira ao lado da insônia. Quero um tempo para fazer fazer coisas sem valor algum. Só brevivo. Para escurecer lá fora é um pulo. Migalho alguns minutos para sorrir, só por osmose. Por esses caminhos tortos, busco os sonhos que não tem tanta afinidade com estas manhãs de cinza claro que não serão assunto para meus filhos. Não ando fazendo ações sociais, mas transpiro boa vontade como de costume. Um eterno doador de si mesmo que não sabe a hora de parar. E de respirar. Essa mania estúpida de querer o perfeccionismo, que me faz perder o bom humor.

Já não sei mais o caminho da faculdade. É nessas horas que, pensar que ninguém é insubstituível, dói mais. Dói também saber que o ser humano só reconhece defeitos e é míope para acertos. Onde estão meus amigos? Onde está aquele violão? Cadê meu papel e caneta que sempre tão bem me fizeram? Devo tê-los perdido, nestas tardes que eu não consigo ver. E viver.

Guilherme Vilaggio Del Russo