segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pra não dizer que não falei das flores

Me repreendi, quando novamente me peguei a escrever sobre a beleza imperceptível aos olhos da vida. Estupidamente, me vi com caneta e papel rabiscando sobre a senhora no vagão, anotando receitas e sonhando paixões de um passado. Algo, "bem passado", dizia ela. Ao lado dela, a criança suja e descalça me olhava com cara de "Porquê nao eu?". Sempre foi um problema meu, levar os olhos à essência pura e linda, para a realidade fantasiosa e obscura de certos momentos. Como olhar uma rosa e nao perceber seus espinhos (salve Vinícius!).

Me senti no dever, na obrigação e com certo atraso para falar da menina dos olhos de pedidos perdidos. Quando ela me fitou, me senti um inútil a repetir a mesmice entoada em canções de amor. Toda essa melação que um poeta escreve quando seu caderno está vazio. Uma menina que talvez gostasse deste texto, se soubesse ler. Acho que qualquer rascunho de escritor, deveria abrir mão das rimas ricas e falar desta realidade pobre que nos cerca. Não precisa pensar muito ou ir distante. Visite o metrô, o lugar mais democrático do mundo. E mais contrastante.

Mil perdões, eu não tinha um puto no bolso a te dar, menina. Resolvi te dar um texto. Sei que soa cômodo, mas entenda como um band-aid enquanto eu peço o Methiolate. Desculpe usá-la como tela inicial, mas voce é o retrato de um país que fala de tudo e todos, menos de si mesmo. Um retrato preto e banco. E sujo. Talvez, com essas palavras, eu encontre outros que possam suprir esses seus desejos. Tirar novas fotos, arquivar textos e lhe dar um par de sapatos.

Guilherme Vilaggio Del Russo

Um comentário:

Rafa Vivolo disse...

Bons textos, curti!!!

Abratz