sexta-feira, 29 de maio de 2009

Bifurcação

Sei lá, estúpida mania de sempre achar que tem algo errado. Não sei, mas não me contento em me sentir bem. Sempre busco nas superações, um modo de vida. Percebo-me em perfeita sintonia com a intenção do amanhã. Um mentira bem contada. Visto-me com essa cara de socialmente correto, quando na verdade quero que me apontem sinais de fraqueza. Eu ainda quero ser melhor. Você tem tudo que deseja, mas não o que precisa. Por isso, acabo me viciando em drogas pesadas chamadas finais-de-semana. Já não consigo ficar longe de onde eu sempre deveria estar perto: dos palcos. Toda sexta é igual: cai a máscara do publicitário de futuro e entra o sonhador de estado presente. A vida se dilata, tornando-se incomparável.

É dessa bagunça organizada que tiro forças para me sentir tímido durante a semana. É triste ter que se imaginar de verdade na hora do banho. E só ali. Pensem em um pássaro que sabe como escapar da gaiola, mas que opta por ficar um pouco mais. Já não culpo oportunidades, digo que é o medo mesmo. Sei lá, estúpida mania de sempre achar que tem algo errado...

Guilherme Vilaggio Del Russo

sexta-feira, 15 de maio de 2009

vidarejo

e nessas horas inversamente proporcionais a saudade
mantendo a forma eu vou mentindo,
em torno de alguns relâmpagos de questões mal-resolvidas

em algum lugar dessa vida,
eu canto em algum canto e mantenho a obsessão pelo não-óbvio, esse carinho pelo simples, rodiado a verbos e sujeitos irregulares com algum sentido literal.

tudo se nota, tudo se anota e é passível de nota. Por quê? Pra quê? Paro e bocejo a mesmice ao mesmo tempo que respito insensatez. Renomeio o medo, e rasgo contratos de pudor. Sou o fruto maduro da Terra do Nunca. E do pra sempre.

canetas roubadas, tão companheiras em uma sexta perdida substituindo mulheres e seus problemas de meninas. Pontuo-me e finjo não ver luz no fim do túnel. Te dou razão porque isso eu nunca tive. Grito quase sozinho, irreverente e irritado: "Independência ou ônibus!"

abraço o mundo bem forte para ele não escapar! Um mundo onde nada se apega, mas tudo se apaga. De um mundo que é tudo. Menos meu. Tudo isso com pinta de ser concreto, quando era pra ser sonho. Toda essa grandiosidade com o tamanho da nossa intenção dentro de um lugar chamado, vidarejo.

Guilherme Vilaggio Del Russo

quinta-feira, 7 de maio de 2009

As praças públicas estão vazias.

As cortinas se abrem e eu não consigo ver. Busco pela arte e encontro filas. Vejo ingressos nas mãos de poucos quando não deveria haver ingresso. Livre arbítrio da cultura que nos foi roubado. Pra uma pátria que se diz democrática, vejo poucos livros. Ou quase não os vejo, estão presos dentro de vitrines. Os atores, em palcos onde nunca pude estar. Eu quero ver para creer, mas não me deixam. O acesso a arte neste país não passa de uma grande comédia de mau gosto. A Divina Comédia! Palhaços e artistas do dinheiro que se vanglorizam ao esfarelar alguns restos de uma cultura cheio de retalhos bons. Não existe show de graça. Existem impostos. Brasil, mistura da dança rio grandense com a pintura indígena, Brasil de arte que eu só conheço por nome. Acesso negado aos muitos que não querem ser mais leigos.

As praças públicas estão vazias. Como vamos protestar se nem ao menos nos dão a oportunidade de saber que temos que protestar? Certas lições não se aprendem na escola. Perceptível apenas no acorde do músico, na risada do palhaço, na improvisação do ator, no guaxe do pintor. Parece se tratar de "conteúdo impróprio" para os brasileiros. Logo nós, donos da arte de engolir sapos, não podemos nos dar ao luxo de aprender sem precisar de lápis e caneta? A arte traz isso. Mas, onde ela está?

Liberdade de expressão, acesso, livros, palcos, ilusão, fantasia, esperança. Tudo isso sem precisar de papel moeda. Eu quero estar na primeira fila da vida. A arte de sobreviver, a gente já conhece. Quero experimentar outras. Para um povo de pouco pão, nada mais justo que nos permitir, o circo.

Guilherme Vilaggio Del Russo

sábado, 2 de maio de 2009

eu procuro um herói.

E no meio de tanto desemprego, suor e lágrimas, tanta injustiça, tanta crise, tanta gripe, está aberta a vagas a heróis. Raça em extinção. É tanta gente, tanta sujeira, traços de corrupção em todos os estados. Alguém que me faça sentir orgulho. Um espelho de idéias e ideais. Alguma frase para se pensar, uma morte em razão da vida do mundo. O mundo está cheio. E estou cheio dele. Eu procuro um herói.

Como antes na história desse país, uma história de tantos vilões? E só vilões. Eu só não acho heróis como acho que a concepção desta palavra esteja um tanto quando equivocada. Me corrija se eu estiver errado, mas ser herói é ganhar 1 milhão de reais? O que ele fez por mim, por você? Pra essa brava gente de cada dia falta alguém que os olhe com devida atenção, entenda-os e esbraveje ao mundo pão e leite. O mínimo se tornando essencial. Alguém que lute contra essa miopia social que nos cega diante dos fatos e fotos, que nos mostra que a batalha está sendo vencida pelos vilões. Estamos longe de um final feliz e por isso, eu procuro um herói.

Palavras e ações que substituam super poderes. Iniciativas que entrem no lugar do choro de brasileiros cansados de se reerguir. Eu não quero me dar ao luxo de acreditar de que estamos jogados a mercê da nossa própria sorte. Deve haver alguém que seja o megafone da fome que passamos hoje. A solução destes dias de crise, a vacina destes dias de gripe. Deve ser falta de sorte. Talvez eu não esteja procurando no lugar certo. Como disse o outro, já "Não há 3 mosqueteiros". Nos sobrou nós. Não posso desistir, preciso acreditar em alguém. Eu ainda procuro um herói em um país onde, segundo o dicionário, "Herói" é o cara que não teve tempo de correr.

Guilherme Vilaggio Del Russo.