domingo, 24 de outubro de 2010

Pra nós, da juventude.

Como usamos mal nossos vinte e poucos anos. Não posso acreditar que esse sangue inquieto possa trazer tão poucas atitudes interessantes para a sociedade. Não se "fez" uma juventude como antes. Continuamos com a vontade vã de reclamar, mas desta vez esquecemos a razão para tal. Vivemos uma época de levante da bandeira independente, sem esquecer da mesada dos pais. Precisamos mostrar muito mais do que palavras de efeito e viagens de intercâmbio.

Penso que devemos sim rasgar os filtros pré-definidos pelos outros desde que haja consciência e aceitação dos termos de responsabilidade sobre o instante posterior. Deixar de ser mimado nas palavras é uma vitória. Nas ações então, nem se fala. Mas, olha lá, mais um discurso engessado de um de nós que briga pela rebeldia sem causa, sem uma causa para se rebelar.

A juventude deveria ser tratada como época de aprendizado e não como oportunidade para transgredir os parâmetros do bom senso e da educação. Viva além.

Guilherme Vilaggio Del Russo

domingo, 3 de outubro de 2010

Eu, meu Celta e a inspeção veicular.

Neste último sábado, levei meu carro para a inspeção veicular obrigatória, após ter pago chorados 70 reais por uma consulta que seria de, no máximo, 10 minutos e aguardar por quase um mês um horário em que pudesse levar meu Celta 1.0, preto, básico, carinhosamente apelidado de "Lotus".

Todo mundo sabe o amor que sinto por esse carro. Ele é como um filho e como tal, gera inúmeras despesas, todas pagas com as 12 horas-diárias-de-trabalho-nosso-de-cada-dia. Seria o dia de levá-lo ao médico. Paciente, aguardei pelos 10 minutos da vistoria rígida, quando o rapaz comenta:

- É infelizmente, seu carro está reprovado no teste.
- Como assim?Acabei de trocar óleo, comprei 2 pneus, a bateria está novinha, com menos de 2 semanas, posso garantir que...
- É só uma borrachinha que precisa trocar. Ela não tem tanta importância, mas com ela gasta como está, precisa ser trocada. Optei por reprovar. Aguardo seu retorno.

Entendo. Entendo pagar os maiores impostos do mundo. Entendo andar por estradas de merda. Entendo pagar um preço absurdo por um combustível de má qualidade e pagar pedágios que, pelo preço que cobram, só podem me separar do céu. Mas não posso entender meu Celtinha 1.0, preto, básico, carinhosamente apelidado de "Lotus", ser reprovado no teste.

Voltei para casa um tanto desolado. As notas D nas provas de matemática não doíam tanto. O máximo que engatei na volta foi uma terceira que me apertava a alma. Eu precisava ir devagar pra pensar em uma justificativa plausível para entender a tal reprovação. Como não encontrei, fiz melhor: como vivemos neste país de liberdade de expressão (por favor, não me façam tirar este post), resolvi inverter a ordem das coisas: eu vou avaliar o que o governo fez por mim e pelo meu Celtinha 1.0, preto, básico, carinhosamente apelidado de "Lotus".

Voltando pela Faria Lima, não pude deixar de observar e pegar um trânsito de 30 minutos para percorrer 3 kilômetros. Não vi nenhum acidente grave e muito menos algum policial ou CET nos ajudando para chegarmos com segurança. Então, optei por reprovar a Faria Lima e o trânsito no estado mais rico da união. É coisa boba, mas, enfim, vamos reprovar.

Ao passar pelo posto Shell, não pude deixar de observar o custo elevado para colocar alguns litros de álcool. Olhei para a minha carteira que me olhou de volta quase suplicando "não me abra", mas tive que deixar 20 reais para continuar viagem. Então, optei por reprovar o preço abusivo do álcool em um dos países que mais tem plantação de cana no mundo.

Passei pelo rio Pinheiros e não pude deixar de observar e sentir o cheiro podre de esgoto não tratado sendo despejado no mesmo. Senti inveja dos judeus presos nas câmeras de gás na segunda guerra mundial. Ficar preso no trânsito sentindo aquele odor era para poucos. Mas não para mim. Então, optei por reprovar a qualidade do rio Pinheiros, sua sujeira e seu esgoto não tratado num estado que se orgulha de ter 70% do seu esgoto tratado. Eu devo ser muito azarado, pois só convivo com os outros 30%.

Quase chegando em casa, fui acometido por uma cena forte. No carro da frente, dois rapazes em uma moto, mostravam a arma para a mulher e levavam sua bolsa e seu rádio, frutos de 12 horas-diárias-de-trabalho-nosso-de-cada-dia. Por incrível que pareça, assim que passei por ela, observei sua expressão calma, tranquila e serena, como se aquilo fosse uma coisa banal. Por mim, pelo meu Celta 1.0, preto, básico carinhosamente apelidado de "Lotus" e pela mulher, optei por reprovar a segurança do estado de São Paulo, lugar onde morre-se mais pessoas em um ano do que em toda a guerra no Iraque.

Na rua de trás da minha casa, de nome Alencar Araripe, não pude deixar de observar os oitocentos e setenta nove buracos pelos quais tive que atravessar. De todos os tamanhos, tipos e cada qual com sua funcionalidade: quebrar meu escapamento, desalinhar meu carro ou furar meu pneu. Então optei por reprovar as ruas e avenidas do nosso país e toda a operação de tapa buracos. Não quero que tampem os buracos, quero novas ruas e asfalto de qualidade, com mais de 6 meses de garantia.

Como estou melhor depois de exercer meu direito de cidadão e dividir a responsabilidade por um país melhor!É o "livre arbítrio" de querer um carro (e um país) melhor. Ação e reação, como tudo na vida.

Governo, fique tranquilo que retornarei para trazer meu Celta 1.0, preto, básico carinhosamente apelidado de "Lotus" para a revisão. Ah, mas também "aguardo o seu retorno".

Guilherme Vilaggio Del Russo