quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mas há sonhos que não podem ser.

Inconscientemente, acordo no ponto certo. Olho pro relógio que me indica estar impecavelmente no horário. Com essa gravata, pareço insubstituível. Pareço. Robótico é pensar que ainda é hoje e que amanhã vou pensar da mesma forma. Não esqueci de engraxar meus sapatos e o plano de hoje é: não-ter-planos. A rotina, essa doença crônica, começa a mostrar seus sintomas em mim, o que me deixa deveras preocupado. Faz algum tempo que estou gritando pelo diferente. Em vão. O que me preocupa é que a cada dia fico mais sem voz. E mais constante.

Tudo é replay de ontem e dejavú de amanhã. Odeio esse sincronismo entre o viver e o esperar. Sempre dá tempo para tudo e eu continuo sendo um nada. "Você já deixou a sua marca no mundo hoje?" O problema não é responder a pergunta. É saber a resposta de cor. De segunda a segunda, penso estar caminhando em linha reta, quando no final, trata-se sempre de um círculo. Um círculo de tantas e tantas voltas e, ao mesmo tempo, sem volta. Continuo caminhando, isso é fato. Mas, já passei por aqui.

Guilherme Vilaggio Del Russo

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Inimiga Secreta

Todos os dias estou com ela. Têm certos dias que ela é tão fria, mas é do tipo gostosa, convenhamos. Gosta das coisas em "pratos limpos". De um lado para o outro, sempre está em minha companhia. Admito que me sustenta, ás vezes. Não tenho muito orgulho de estar ao lado dela. Não é algo a se apresentar. Enfim, preferiria que fosse só lembrança de momentos que passamos juntos. A atual situação exige que eu a ature e vice-versa. Um peso a mais nas minhas costas. Mais de uma vez torno a esquecê-la, deixá-la de canto enquanto estou com meus amigos. Normal. Até minha mãe tem certa afinidade com ela. Sempre pergunta por ela e confesso, isso me irrita.

Apesar de não estar muito contente, creio que ela seja o símbolo de quem quer ir mais longe, daqueles que abrem mão do imediatismo. Sonho com dias em que ela seja só mais um motivo de risadas em conversas familiares. De um passado construído com ela e por quem não se conforma com o pouco. É óbvio demais pensar que ela não deixará saudades, mas inegável dizer que nela não há amor e esperança de um futuro bom.

Lá está ela. Vejamos o que ela traz de bom hoje. Hum...
Arroz, feijão e bife. De novo.

Guilherme Vilaggio Del Russo

ps: ver nota do autor nos comentários.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

uma vida inteira.

Certas noites me pego pensando em tudo aquilo que já conquistei. Materialmente e mais do que isso, falando. Nesse tempo fui me misturando entre vitórias e noites em claro, no sabor de abraços e na solidão do meu sofá também. Absorvi amargos conselhos que as derrotas me trouxeram. Quanta gente eu tive que deixar no meio do caminho, quantas coisam tive que fazer por... fazer. E por impulso. As pessoas não se separam, elas se abandonam. Aprendi categoricamente a dizer não para certas coisas. Sei que minha previsível rebeldia da juventude me trouxe conflitos, mas muito mais do que isso me trouxe a chance de ver com outros olhos. E também humildade para pedir perdão, pedir mais uma vez. Apesar do passado, quem me conhece sabe a lista de planos que ainda tenho que cumprir. Até meus 26 anos, ou antes. Não vou me permitir que esta lista fique vazia nunca. É meu oxigênio de todos os dias.

É grande o número de vezes que cai. Maior ainda é o número que me refiz, ainda melhor. Sei que parte do que tenho hoje devo agradecer à algo maior, que me mostrou caminhos e deixou que eu caminhasse. Mas a maior parte consegui com 2 mãos, uma voz e as amidalites que me perturbam. Não se trata de ser arrogante. Trata-se de ser, sonhador.

Guilherme Vilaggio Del Russo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ridiculamente bom

Se hoje eu pudesse lhe dar um conselho, pediria a você para ser ridículo. Ridículo mesmo, sempre. Ridículo ao ponto de acreditar nas pessoas, de ter fé para esperar dos outros mais e mais.

Não existe pessoa melhor do que aquela que se permite fugir à razão, mesmo que às vezes. Sorrir sem um puto no bolso. Ser do contra só pelo prazer de ser.

Há quanto tempo você ensaia sorrisos em fotos?

Imagine bancar o idiota e não saber de cor o hit do momento, se confundir do nome do novo galã das 9, não ir a festas badaladas. Seria demais? Seria muito ridículo pedir a você para ficar em casa em uma sexta-feira à noite e pôr seus pais a par da sua semana?Não quero ser o retrato falado da mesmice. Não sou meu vizinho. Vou ser ridículo para não saber o que vem depois do verbo querer. Ridículo sendo eu mesmo, só para sacanear. Ou então, cantar bem alto quando perceber que o mal sempre vai existir, protestar contra a inércia de sentimentos bons, me arriscar a ser completamente plausível em ações contraditórias!

Buscamos ser compreensíveis quando, na verdade, o ser humano é antítese pura.

Ridículo rezando para que eu não seja o único... e pedir justiça em um mundo onde todos se julgam, perfeitamente sãos.

Nunca um defeito foi tão qualidade. Isso não é ridículo? Que bom.

Guilherme Vilaggio Del Russo