terça-feira, 22 de setembro de 2009

Epifania

Eu nunca vou saber se será melhor assim. Preciso crer que eu tenho sorte. E se não tiver, vou encontrar a força. Estou saindo de onde, por 21 anos, me alienei da necessidade. Espero encontrar suas broncas somente em cartas e alguns abraços a esmo em datas festivas. Não repare se meu tênis não estiver mais espalhado pela casa. A toalha molhada, posicionada estrátegicamente sobre minha cama, também estou levando. Esse nosso amor, de sempre e de sangue está guardado em algumas fotos que enfeitarão um mural que nunca tive.

Passei dos meus 12 anos, mesmo querendo que o tempo parasse naquela época. Você não viu e ainda hoje questiona notas onde você só vai encontrar tcc. Ficam-se seus sonhos de advogado, médico ou embaixador. Na mala, joguei um bocado de admiração, noites na sua cama (sim, com medo de trovões) e uma nostalgia daquele strogonoff, que me enche de lágrimas antes mesmo de por os pés pra fora.

Eu não sei o que vou encontrar lá fora e é justamente por isso que estou indo. Prometo ser mais razão e trilhar o caminho do amor, apesar de conhecer o da dor, de cor. Guarde sua lembrança do menino que sonhava muito e que, por vezes, era motivo de advertências na escola. Hoje ele só sonha e a vida mesmo trata de dar suas advertências. Das coisas que sempre quis ter, do carro que nunca consegui pegar, do quarto único que não passou de desejo, das namoradas que você nunca gostou, da insistência em pegar seu violão, da vergonha da minha marmita, fica o meu muito obrigado. Tudo isso me leva adiante.

Nesta saída, uma única certeza: a de lhe escrever, sempre.Você não precisa chorar agora se tudo que passamos juntos nos faz sorrir.

Guilherme Vilaggio Del Russo

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Faz Cena

Olho para cima e nada. Essa chuva que já deu o ar da graça mas que entre outra e uma, insiste em ficar por cima. Sempre tão afinada quando cai. Mas toda chuva traz chiado, traz chuvisco. Traz rabisco também. Cheiro de chuva que traz lembranças de momentos que eu provavelmente não estaria dando a mínima para ela. Mas cá estou eu, de vontade louca de fazer uma porção de coisas, indo fazer justamente o que não quero.

Só essa chuva para lembrar dos guarda-chuvas que abandonei pelo caminho. Das pessoas com as quais eu o dividi, também. Tudo é questão de e do tempo. E hoje chove como nunca, me trazendo o sono de sempre. Cai logo! Pra me trazer esse desejo de esquecer tudo que faço por obrigação. Você, que foge das explicações racionais dos dicionários. Você, a qual encaro diferente, de frente. Você que, pra mim, é muito mais que condensação de um dia cansativo. É um eufemismo na hora de encarar a vida.

Guilherme Vilaggio Del Russo