sábado, 5 de novembro de 2011

"o futuro é um labirinto."

Cheguei a ler teu horóscopo hoje pela manhã. Queria te entender melhor, você sempre tão oito ou oitenta. Esse seu desinteresse me deixa um pouco chateado, confesso. Desinteresse pela vida, você anda se contentando com seu passado. Existe uma vida aqui fora e você não faz ideia de quanto ela é colorida. Uma hora sua vida encostada no sofá da sala vai ter que terminar. Pouca coisa é muito quando não se tem nada.

E você não sabe, mas estou aqui de braços abertos te esperando pra dar um grande abraço e gritarmos "Oi, mundo!". E depois, a gente vai viver. Vai viajar também, é o que você mais quer. É tão confuso para mim nos imaginar de mãos dadas e ao mesmo tempo nunca me sentir confortável para falar com você sobre algo que não fosse a rotina de trabalho diário e sua preferência pelo rock.

Acredita em mim, seremos felizes. A gente sempre se desencontra, uma hora a vida erra o caminho e nos acerta. Temos tudo para dar certo, pelo menos é o que diz esse seu horóscopo.

Guilherme Vilaggio Del Russo

sábado, 8 de outubro de 2011

quando ela está por perto.

lá vem ela de novo,
me pergunta se pode repetir
com seu jeito deselegante de andar,
um pouco anos 50. Não se importa.
ela faz questão de mostrar seu novo vestido
e me faz mais feliz por perguntar como foi meu dia
sorriso sincero,
não dá pra não retribuir quando ela diz estar com saudades
e pra aparecer mais, pra lembrarmos do nosso passado
de um tempo que caminhávamos de mãos dadas.
continua amando as músicas de ontem
e sua vitrola de casa não é vintage, ela jura.
a gente se divertia com tão pouco, lembra?
bastava uma meia dúzia de palavras cruzadas
ou uma viagem juntos
pra deixar claro que amor como esse
distância alguma poderia quebrar.

e sem graça, no final do jantar
me puxa de canto e me pergunta, de novo
sutil, como sempre foi pela vida inteira
- Posso repetir?
- Pode, vó, claro. Só hoje, sem abusar.

Guilherme Vilaggio Del Russo

ps: para Clarice Aparecida Dias Vilaggio, que com o cabo da vassoura me ensinou que a vida é mais do que escrever em um blog e menos difícil do que a gente imagina.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre América Latina e ovos com bacon

Que feliz sou por poder beber este mate quente. Mais feliz ainda sou por ter isso todo os domingos com "mi papá" ao lado. É desses costumes que vão muito mais além do que simplesmente fazê-lo: sente-se. Pertencer a este pedaço de chão que chamo de Futuro (outros tanto chamam de América Latina, e outros, aqueles que possuem a arrogância peculiar de nos olhar de cima, chamam de terceiro mundo) é poder observar e vivenciar a diversidade contínua de raças, cores e amores. Contrariando uma sociedade que prega que ser igual é ser mais feliz, digo que minha vida pertence a este lugar, que a vontade de caminhar por trechos desta América é infinitamente maior do que visitar aqueles que um dia, com armas, vieram para cá pregar seu estilo de vida.

Parece que gostamos desse fado carregado por tantos e tantos anos de sermos colônias. Antes, de exploração, hoje, de férias. Temos aqui, hoje e agora, a real chance de criar um novo mundo, um mundo curado desse vírus do consumismo, um mundo que dá chance igual para todos sentirem o gosto de serem livres e não dependentes do sinal 3G de nossos celulares, iPhones e iPads. Uma chance de escrever uma nova história, mostrar que temos muito mais do que bananas, maconha e alguns coqueiros para oferecer. Deus já abençoou esse pedaço com pouquíssimas catástrofes naturais e me recuso a pensar que isso seja coincidência. Vivemos em eterna luta, sim: luta de ideologias e maneiras de governar, mas tenho comigo a certeza que esse é o caminho do sucesso. A divergência gera opinião, que gera discurso, que gera ações, que voltam a gerar divergência. Quem um dia pensou que a Bolívia seria governada por um descendente indígena ou que as mulheres assumiriam dois dos maiores poderes das terras banhadas pelo Rio da Prata? Se eles mais acertam do que erram ou vice-versa, cabe a nós enxergar. Eles dizem que não gostamos da democracia. Não. Não gostamos da democracia que nos oferecem, enlatada e enviada em containers onde "quien tiene mas plata tiene dos votos".

Até quando gostaremos de ser os rabiscos daqueles do Norte? E mais: desde quando o rabisco veio antes da arte final? Vamos gostar de ser eternamente cópias infelizes e mal geradas daqueles que um dia nos prometeram um mundo melhor? Não, não. A verdade é que estamos aqui para mostrar que podemos sorrir sem os dentes manchados de petróleo. Que delícia poder viver sem precisar necessariamente "passar 2 ou 3 meses na Paris, EUA ou o caralho A4" para ser mais feliz. Só nos falta uma vontade de nos conhecermos melhor, oportunidade para ler sobre a história latino-americana e coragem para pegar a mochila e entender que a Venezuela é logo ali.

É, sempre gostei mais do doce de leite uruguaio do que o matinal bacon com ovos.

Guilherme Vilaggio Del Russo

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

um mundo nota 7.

Acendo o cigarro e olho para fora. O vento sopra forte, somente o silêncio me acompanha, a natureza parece abrir uma brecha para a conversa fiada. Talvez Deus esteja ouvindo, talvez esse seja um bom momento.

Que mundo estranho. As notícias pela manhã me dão conta disso. Perdão, as notícias que saem, já que tem algumas que ficam presas na rede pegajosa da censura, tão emoldura no século passado, tão em cores vivas nos dias atuais. Assassinos em escolas, ladrões em gabinetes públicos, palhaços no senado. Lugares e pessoas que não combinam, pólos negativos que por algum motivo infame da natureza, se atraem. Pessoas que não tem a doença crônica que me afeta pelas noites, de nome: respeito pelo próximo. Ligo a TV e lá está o cara do Porsche a 150 kilômetros, o sensacionalismo dos jornalistas brasileiros, um mundo de eterna guerra no oriente médio e eterna oscilação na bolsa. 9 horas e estou atrasado para o trabalho. É, é um mundo de merda mesmo.

Mas, como disse Eduardo Galeano, este mundo está grávido de outro. Um mundo de parto difícil. Um mundo criado e fecundado por nós, jovens que continuamos acreditando em uma realidade utópica, impossível de alcançar mas que serve de solado para amaciar a caminhada para a frente. Quero que meus filhos não tenham a possibilidade de imaginar um mundo melhor. Quero que eles já estejam nele. Que peguem esses travesseiros cheios de sonhos e realizem pela manhã e que em seus peitos arda uma vontade louca de amar. Não esse amor de confeitaria que vemos por aí, que de tão doce e sofisticado, perde o gosto. Um amor mais bolo de fubá, quente, macio. Quando nasce esse mundo, meu Deus?Você deve estar cego, mas não se faça de surdo.


Este mundo atual, dominado pelos senhores da democracia norte americana que ainda nos vêem como colônia de exploração, está cinza por que está no fim. Está frio porque ainda não há quem o esquente. Está estranho porque há mesmice, está desumano porque ainda não vendem esperança em sites de compra coletiva. Por enquanto. Meus dias são dias esperando e ajudando a construir um mundo menos nota 7.

Guilherme Vilaggio Del Russo

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Lista de presentes (meus 23 anos)

para a vida, vitória
para a escola, saudades
para os amigos, o amanhã
para ex(s) namorada(s), obrigado
para o trabalho, suor
para os otimistas, palmas
para quem acredita, palmas em dobro
para os tristes, amor
para mim, parabéns
para vocês, também
para meus joelhos, outros 23 anos
para os sonhos, persistência
para mamãe, "além do que se vê"
para el viejo, "um par"
pra irmã de peito, apoio.
para o sorriso, replay
para morte, um abraço.

Guilherme Vilaggio Del Russo

sábado, 11 de junho de 2011

Carta que não fará sentido amanhã de manhã.

Ei,

se está lendo esta carta, é que por um segundo tomei coragem para escrevê-la. A verdade é que 02:21 da manhã e estou aqui me perguntando o que você está fazendo agora. Já fazem alguns anos que me pergunto isso e nessas horas me sinto em ponto morto, caminhando por...caminhar. Nunca fui bom em falar, eu prefiro escrever, você sabe, mas hoje tá complicado. Mas te escrevo pra dizer que conheci uma pessoa. Uma só. É, faz um tempo, mas eu acho que eu não te contei sobre isso. Eu juro que foi acidente.

Ela é linda. Tem olhos que brilham no escuro e mais um monte de qualidades que eu pensei que só poderia encontrar no filmes de comédia romântica. Eu não estava bem preparado pra ela. Ok, pra dizer a verdade eu não queria estar preparado pra ela. Mas ela foi falando e argumentando e falando mais e foi fazendo sentido pra mim. Eu disse: quer arriscar? Óbvio, falando comigo mesmo. Foi como se eu entrasse em pane dentro de um bi-motor que vai em direção ao solo. Um centímetro mais perto do chão, um centrímetro a mais no meu sorriso. Quando vi, me peguei pensando que talvez fosse ela.

Ah, ela não é tão alta quanto as modelos. Mas tem pele moreninha jambo e cheiro de talco. Passou a ser minha dose diária de pipoca doce, mas do tipo que não enjoa na terceira vez. E beijava bem, parece que nossas bocas foram modeladas pro encaixe milimétrico.

Essa menina é você. Essa é a boa notícia. Logo eu, sim, eu sei. O menino de "arroiz" no email porque estava em todas. As pessoas mudam, eu tenho esse direito também.

A má notícia fica por conta da presente hora, exatos 02:39. Sim, em 15 minutos fiz o texto e não vou revisâ-lo. Deixa aí. Mas eu falava outra coisa. Eu não tenho a menor idéia de como te trazer de volta. O mundo é grande, inclusive a zona sul onde você deve estar agora com amigos e um possível namorado. Não sei por onde começar a te procurar. Tô com medo de ter piscado demais e ter te perdido. Bem naquela noite onde parecia que a gente tinha acabado de ensaiar uma cena. A gente conhecia a fala do outro de cor e fazia planos de ver mais seriados juntos. Talvez eu não tenha sido convincente ou tenha sido eu demais. É, talvez eu não valho muita coisa.

Guarde sua fé para outra pessoa. Para o amor, é isso. Esse ou um outro que você venha ou esteja vivendo. Ah, admiro tua paixão por all-star. O problema é que gosta daqueles brancos, sujam fácil, você sabe disso.

Aparece. Me liga, manda uma mensagem, manda um "ei" na minha timeline. Sinto tua falta, ás 03 da manhã.

De um distante teu,

Guilherme Vilaggio Del Russo


quinta-feira, 19 de maio de 2011

O que eu vou ser quando crescer

"O que você quer ser quando crescer?", diz esse título. Hmm, eu de verdade, não sei. Talvez se me dessem mais tempo, se eu fosse um pouco mais velho. Quando eu deixar de gostar dos meus seriados, eu penso nisso. Vou seguir colorindo a vida mesmo. E se vier uma nota baixa por isso, saiba que eu nem ligo! Escondo debaixo dos meus cadernos cheios de textos. AH! Talvez eu queira ser poeta, daqueles que vão aos eventos em bibliotecas que cheiram mofo e que ficam para a posteridade, depois de terem sido esquecidos em vida. Poeta daqueles que vivem à margem da sociedade. E da realidade também. Talvez você não tenha tempo de ler. Eu te entendo perfeitamente, também não tenho tempo para matemática. Poeta que luta de caneta, que grita com exclamação. Sabe, ser poeta? Categoria única elevada à herói. Ou a mendigo. Eu gosto de escrever. De escrever sobre mendigos também. Eu não sei o que eu quero. Por isso mesmo, sou ser poeta."

Professor, por favor, deixa eu começar novamente. Tenho medo de que tudo que eu escrevi seja verdade.

Guilherme Vilaggio Del Russo.

domingo, 24 de abril de 2011

Mãe, hoje eu vi uma procissão

mãe, hoje eu vi uma procissão
que eu tinha ouvido falar
e ela falava de um homem
do qual reluto em conversar

mãe, hoje eu vi uma procissão
e me senti um pouco estranho
porque falava de um cara e um rebanho
e dos 3 dias que demorou pra acordar

mãe, hoje eu vi uma procissão
de um rapaz que só quis agradar
que devia ter orgulho dessa multidão e da fé
das pessoas que só vivem a esperar.

mãe, hoje eu vi uma procissão
e tranquilo, não estou mais ou menos convencido
só percebi como é bonito
a beleza de só acreditar,
de só acreditar.

Guilherme Vilaggio Del Russo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

sobre o nosso último romance.

que saudades que eu tenho daqueles dias. dias que a gente inventou uma paixão, que a gente fechou os olhos pro futuro e quis viver só o nosso cinema cult. dias que foram poucos dias, suficientes entretanto para deixar uma ácida marca de saudades dos seus pés pequenos. demorei tanto para ter a claridade dos teus olhos por perto que quando tive, não soube valorizar. fui orgulhoso e deixei reticências nessa nossa conversa antiga. talvez seja isso o que mais me dói. a história daquele filme parecia prever um futuro breve e a tua música eu já tirei da playlist (ela insiste em tocar nas rádios, fique tranquila). era um frio de Junho, parecido com esse vazio que você deixou na minha cabeça. você não lê muito as coisas por aqui, por isso resolvi entregar que fui muito longe por você. até criar um texto sem respeitar as maiúsculas eu criei. penso em dizer tanta coisa que reuni nesse tempo todo que eu torço pra esquecer ao passar dos anos. não sei dizer se tudo isso foi um adeus. é que a gente nem tchau se deu. e isso machuca.

Guilherme Vilaggio Del Russo.

sábado, 19 de março de 2011

tropeços

se bem nesse dia fosse visto
aquele pôr do sol perfeito
e tivéssemos investido nisso
só a amizade não teria efeito

se o barco tivesse virado
e seu corpo estivesse no rio
torceria para não estar acordado
e a verdade passado por 1 fio

você sabe que não tem jeito
de dar certo, de acabar bem
e se seu pedido tivesse sido aceito
teria ferido nosso outro alguém

não queira sofrer assim
mas do que um dia imaginou
até porque está longe de ter fim
aquele caso que a gente começou.


Guilherme Vilaggio Del Russo

terça-feira, 1 de março de 2011

um breve comentário sobre nós

Engraçado, a palavra escritor não tem muito significado se olharmos no dicionário. A explicação, o porque de existir e o potencial depende daquele que se considera um. Cheguei em uma conclusão bem passível de erro: escritor é o aquele que se finge de autor só para ser comercial. Às vezes por dinheiro e outras vezes..também. Que pena. Deveria tratar-se do cara a espalhar gentileza no ventilador, destilar veneno em rimas pobres e ainda por cima achar bonito. De única função ser o responsável em transformar tempo em palavras, de encantar com tristeza e te conquistar com adjetivos. O escritor é um pouco de todos nós e muita coisa de mim mesmo. Um cara jurado de morte pela interatividade, mas que de tão teimoso, fez disso poesia. Pessoa esta que espera sua vez desde os tempos mais antigos. Ele pode não ter cara, não tem fama, mas que assina. Um cheque em branco, sem valor definido a não ser pelo que tenta fazer de melhor: escrever.

Guilherme Vilaggio Del Russo

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Crônicas de um tempo não tão distante

De longe, bem do alto, sentado em seu trono ele vê que as paredes começam a desmoronar. Seu castelo está sendo tomado por todos os lados e nos rostos de seus vassalos, percebe que a esperança encontra-se há kilômetros. Rezar agora não é uma opção, nunca foi. Não são só as paredes que começam a cair, mas suas promessas também. As pessoas não confiam mais em seu rei. As épocas de crescimento vertiginoso e de ressaca moral ficaram somente nos livros e ontem, quem era amigo, hoje quer sua cabeça exposta em praça pública. Suas palavras que antes soavam como lei, hoje não passam de zombação. Ele tinha uma imagem a zelar e parece que esse porteiro não vai aguentar muito mais.

O rei está atônito e não sabe por onde começar. Nem se vai começar. Sua presença antes, tão adorada, em minutos se tornaria só mais um corpo estendido pelos corredores. O mundo costumava ser bom e decente para aqueles que tinham como principais armas a verdade e a honestidade. Onde será que ele se perdeu? Qual lição ele não havia aprendido nos campos de batalha que um dia foram seus? Ontem ele era unanimidade hoje era decepção.

Os sinos da derrota começaram a tocar. Assim como nas vitórias, o rei também decide ficar e aceitar a derrota como homem. Vê na corda pendurada uma chance de morrer. Como covarde. Nunca foi desses. Ele nada se arrepende das coisas que fez. Ele só se arrepende de não ter vestido a máscara da alegria por mais tempo e de ter tentado agradar a todos. O rei morre sozinho, em sua cadeira, "de longe, bem do alto", imerso em pensamentos e acreditando que morrer apoiado em crenças era deixar a sua marca no mundo.

Guilherme Vilaggio Del Russo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AB +

Há determinadas pessoas que deixam marcas durante sua breve respiração mundana. Existe outro tipo de ser que passa em nossa vida e deixa aprendizados. Há ainda quem nos encontra no meio do caminho e você se pergunta como pode viver até ali sem conhecê-la antes. Mas há aquele tipo de pessoa que muito mais do que amar, você respeita, respira junto e enxerga como ser humano completo. E esse tipo, ah, esse tipo, como diz aquele outro, é imprecindível. Que sejamos dessa "turma do fundão", recessiva e escondida. E um pouco mais além.

Guilherme Vilaggio Del Russo.