quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

o nosso hoje

você só aprende quando vive uma experiência dessas. Você vê em cada domingo, um global dizendo que, no final  depois de tanto trabalho e distância, o que vale é a família, que é a base de tudo, que é o pilar, que é o cimento da vida e outras metáforas dominicais. Na cabeça, não passa outra coisa: - "Mas que babaca, quer pagar de humilde agora. O que ele tem pra me ensinar da vida?".

e aí você realmente vive isso. E não vive só no domingo, você vive todo dia. Você sente saudades de coisas que odiava. Sente falta de estar perto pra quem você prometeu que era preciso um caminho sozinho. Você lembra que sua cama não era tão dura assim e que sua mãe era...sua mãe, cara. Das pessoas que eram mais do mesmo, você as vê diferente, um olhar distante na distância mas profundo na análise. Cada dia é outro dia em que você perdeu seu pai resmungando na sala de estar.

não é pra ser algo pessimista, longe disso. Mas você se dá conta de que engrandece porque os problemas também são do mesmo tamanho. Você precisa competir de igual pra igual, senão não vai dar. Você aprende um monte de babaquices globais e vê que elas tem até...sentido. No final, vê que que o vale é a família, que ela é a base de tudo, que é pilar, que é o cimento da vida e o que mais será dito no próximo domingo.

domingo, 1 de julho de 2012

Vinte e sete de Agosto

Querida,


deve estar frio por aí, eu sei. Aqui até que o céu anda aberto, mas nem por isso as coisas tem sido mais fáceis. Nesses dias cheguei a conclusão de que você realmente não me conhece muito bem. Se você tivesse me deixado ser o que sou, veria que eu não sou tão difícil de me entregar assim. E que me entreguei. Tenho pensado muito de que era pra ser e a gente não quis.


Não há uma maneira simples de assumir que não escolhemos o caminho que havia sido feito pra gente. E isso me assusta, linda. Porque foi ontem, ali naquele boteco aberto na cidade fechada. Você falava alguma coisa, eu concordava, você me escolheu primeiro, eu te imaginei por livros e viagens, era a dose de loucura ideal pra alguém que tinha sede disso. Acho que foi ali que percebi que queria passar o resto da minha vida tomando aquele 1.3 litros de cerveja. Claro, a cerveja era ótima, mas ainda preferia seu sorriso.


Você é do tipo louca, aquelas neuróticas, do tipo que me faz sorrir e pedir pra não adiantasse o relógio da vida. Mas eu te escolhi, então essa é a boa notícia. A ruim vem agora. O prazo de validade do seu amor venceu e só me traz hoje na boca um sabor insosso. Você anda distante o suficiente pra buscar comparação. E  hoje tenho a impressão de que a gente vai se perder lá fora. Quando olharmos o calendário e as fotos, veremos que o momento de mudar tudo se foi. E nos caberá aceitar. 


Não querida, não. Eu não esqueci das datas importantes. Eu sofro com uma péssima memória mas tenho um pré-disposição para achar que escrevo bem e fiz do título uma cola pra me fazer lembrar. Lembro também que você faz um ótimo risoto e isso deve valer pra alguma coisa. Assim como seu abraço. Era como o vinho, com cheiro de espera, saudade. Quanto mais demorasse pra acontecer, mais gostoso.


Eu não consigo encontrar uma argumento pra fazer com que você ainda acredite e gaste seu tempo comigo. Mas,  que merda, a gente no seu cobertor era ótimo e não pode ter acontecido sem querer, você sabe.


"Infielmente seu",
Guilherme Vilaggio Del Russo


"Si escribo algo, temo que suceda, si amo demasiado a alguien temo perderlo; sin embargo no puedo dejar de escribir ni de amar."

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Marmita

Ouço de longe o vinil velho. O que toca nele é Raul e eu lembro de minha mãe. Ah, mãe. Saudades da época em que eu era legal não é, mãe? Pequeno, indefeso. É, eu também sinto saudades, sabia? A gente não se cabia de tanta alegria quando você nos levava ao Mc Donalds e eu sonhava em passar a vida naquele lugar. Quantas foram as vezes que eu sonhei que você não repassaria a tabuada do 8 comigo quando chegasse do trabalho. Se hoje me cobro tanto é pra não perder o costume. E você gastou tantas horas da sua vida com nós e me parece que esqueceu de viver, esqueceu-se de si. Onde estão seus sonhos, desejos, vontades, mãe? Meu desejo hoje é que você cumpra o seu. Corte o bolo e faça um pedido pra VOCÊ.

Agora entendo que você nos exigia o mínimo e não a perfeição. Porque se contentar com o 5 se eu podia ter um 9? "Não se compare com a média. Ela é pouca e traiçoeira." Seu mantra em minha memória permanente. Que bom. Consigo enxergar que você sabia exatamente o que íamos passar e quis nos deixar prontos para tudo. Missão cumprida, mãe, descanse um pouco mais, deixe o sobrenome por nossa conta.

Pode parecer que as coisas andam meio cinzas lá fora mas é só neblina dificultando um pouco mais esses raios de sol. Há dias assim e eu sei que você balança neles. A vida não é só de entrega e 8 horas debaixo da coberta. Eu ainda acho que você se doa demais pelos outros e aperta o "soneca" de menos. Se dê a chance de chegar atrasada. Não se trata de um conselho para ser egoísta: é preocupação de ver sorrir aquela que não desgruda do giz.Você já é ótima professora, mãe. Da vida.

Não ando falando muito e o mundo me ensina a dizer cada vez menos, mas sinto sua falta no dia a dia. Que você sempre fique aí, com sua meia de lã azul , um estranho gosto por filmes de desenho e me dizendo que ainda considero nossa casa, um albergue. Eu te perdoo. E te amo.

ps: passado tantos anos você já pode dizer que eu fui o melhor guardador de louças que você já viu.

Guilherme Vilaggio Del Russo

domingo, 13 de maio de 2012

olhar claro, meio verde ás vezes.

2 e 44 da manhã, whisky daqueles nacionais e duas pedras de gelo. O auge de meus 23 anos e você. Em pensamento, claro. Ninguém pensou que seria fácil.

Tô te vendo de longe faz um tempo e daqui de cima me parece que você caminha bem. O marca páginas da minha vida é que anda parado. Confesso: eu preciso de todo o cuidado. Minhas camisas xadrez também. Tem uma velha, branca e cinza que me lembra muito você, de quando a única preocupação era quem acaba primeiro a cerveja do boteco.

Mas aí vem a notícia boa: eu ainda sou o mesmo. Você diz que não é, mas ouvi de canto que você aprendeu a mentir. Que bom. Depois, vem a notícia ruim: eu preciso andar. Inclusive, eu também preciso respirar. Pra mim, um é consequência do outro. Te mando carta, te faço um texto. Mas vou caminhar. Eu preciso me achar. Um dia eu volto mas me custa acreditar que você vai estar na porta da sua casa, de pijama, dizendo (com o sorriso mais lindo do planeta) "Entra que tá frio". A merda é que eu sou um otimista por natureza. E distante por necessidade.

Sabe, não vou culpar a ninguém. Quem em sã consciência começaria algo pensando no fim. Não faz muito sentido, você deveria saber. O mundo não pode ser tão chato assim então acabei de abrir a segunda latinha de cerveja. Vou misturar mesmo e rezar pra que isso faça sentido amanhã. E não faça estrago no estômago.

E olha aí, já vem vindo a saudade me pedindo um espaço. E tem como não dar abrigo? Aquele dia dentro do carro na ladeira foi incrível, não é? Bons momentos. Mas você vai encontrar alguém que te faça ainda mais feliz. E eu vou...me encontrar, por ora. Pra mim, é o primeiro passo. Que eu nunca seja o cara de um texto, mas sim o cara da lembrança. Pura, genuína, natural. Como a gente foi. Ou será?

Guilherme Vilaggio Del Russo.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

A história de Jacks e o Sabiá

Menino-homem, homem-menino
de meia idade
esqueceu de crescer
e foi viver de verdade

foi se encontrar com Deus
e perguntar porque foi escolhido
pra ser daquele jeito
eternamente menino

alma leve, coração puro
escondido em uma ilha, por lá viveu
não deixou filho, filha
e tá indo "pra um lugar todinho meu"

e agora que me dei conta
que o inocente sou eu
porque fui obrigado a caminhar
e de qualquer obrigação, ele se esqueceu

você veio e ensinou
que viver preocupado é grande bobagem
mas chegando lá em cima, não esqueça de ligar dizendo
"fiz boa viagem".

que exemplo, que sorte a tua
de ter vivido só a juventude
a vida em sua amplitude
a carne estava com sal mas a poesia é sua

E foi assim, sonhando em tempo integral
que viveu o cara libertino
mostrando que não há nenhum mal
ter na raiz a grandeza de ser menino

Guilherme Vilaggio Del Russo

* em homenagem a Jacks Jairo Wiesen Thiesen, falecido no dia 19/04, vítima da escolha divina pelos puros e bons.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A casa triste

6 horas da manhã e pra me sacanear, eu levanto. Lá fora, um sol que ri da minha cara de sono e meu cão chorando por estar preso. Preso parece estar eu, porque essa noite foi foda. 1 minuto dormindo, 3 pensando que é preciso ter muita gana. "O que eu vou fazer pra me mudar amanhã?". Pego a corrente do vira-lata e saimos juntos, na cabeça a dúvida se faço isso realmente por ele.

Hoje eu estava puto da vida e com a mesma. A mesma estúpida sensação de que basta seguir caminhando mas que Deus é um grande GPS desatualizado. Algumas ruas contra-mão, caminhos mais longos, placas de "proibido parar". Mas trajeto traçado. Como é difícil engatar essa 3ª.

A verdade é que não anda fácil. É preciso se provar dia após dia que você é capaz. É exercício diário e se não faço, me esqueço. Das vitórias eu nem me lembro, mas as brigas e confrontos ficam remoendo aqui dentro. Que fase, que frio. Acho que meu cão está cansado. E eu idem.

Cansado e tão descrente que penso em pegar a bíblia. Droga. Troquei ela em um sebo por um livro do Chico. "Aprende, Guilherme", ás vezes sozinho não dá.

Guilherme Vilaggio Del Russo

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

meus próximos 12 meses.

Comecei o ano no shuffe. Claro, nada mais óbvio para alguém como eu que não consegue tomar uma decisão com facilidade. Deixei as escolhas a esmo. Ele normalmente tem a razão. As músicas que tocam tem caído bem. Me feito bem. A gente vive ouvindo a mesma música por tanto tempo que esquece de abrir, um poquinho que seja, os olhos para o redor. Ou os ouvidos.

Pra este 2012 escolhi que preciso de foco. Preciso aprender a abrir mão, a ter prioridades, a dizer não. É difícil, são 23 anos tentando não desagradar ninguém. "Mas a vida é assim, Guilherme, deixa de ser muleque". Palavras do meu subconsciente. Ok, nada de auto-piedade, essa nunca foi uma das minhas qualidades mesmo.

Este ano não quero abdicar do meu direito universal de sonhar. Tendo sido tão racional nos últimos tempos que sou pura matemática. Certa, correta, precisa, que não deixando sombra de dúvidas. Chata, no final das contas. Quero me perdoar mais, conhecer quem está me esperando, aprender o que sempre fui contra, acreditar mais em superstições e pedir desculpas a Deus. Sim, cada vez estamos mais distantes. Mas trata-se de uma relação de confiança, cada um trabalha do seu lado. Ás vezes de auto-confiança. Em excesso. E aí, nessa hora ele vem me lembrar que não importa as decisões que eu tome, as prioridades que eleja, as coisas que vou optar por abrir mão, a vida vai ser esse eterno shuflle. Vai sempre tocar a música que eu preciso ouvir.

A escolha é minha. E eu opto por escolher quem, o que e quando, somente no momento que tiver de ser. 2012, vem cá dar um abraço. Será do caralho.

Guilherme Vilaggio Del Russo