me pergunta se pode repetir
com seu jeito deselegante de andar,
um pouco anos 50. Não se importa.
ela faz questão de mostrar seu novo vestido
e me faz mais feliz por perguntar como foi meu dia
sorriso sincero,
não dá pra não retribuir quando ela diz estar com saudades
e pra aparecer mais, pra lembrarmos do nosso passado
de um tempo que caminhávamos de mãos dadas.
continua amando as músicas de ontem
e sua vitrola de casa não é vintage, ela jura.
a gente se divertia com tão pouco, lembra?
bastava uma meia dúzia de palavras cruzadas
ou uma viagem juntos
pra deixar claro que amor como esse
distância alguma poderia quebrar.
e sem graça, no final do jantar
me puxa de canto e me pergunta, de novo
sutil, como sempre foi pela vida inteira
- Posso repetir?
- Pode, vó, claro. Só hoje, sem abusar.
Guilherme Vilaggio Del Russo
ps: para Clarice Aparecida Dias Vilaggio, que com o cabo da vassoura me ensinou que a vida é mais do que escrever em um blog e menos difícil do que a gente imagina.