quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre América Latina e ovos com bacon

Que feliz sou por poder beber este mate quente. Mais feliz ainda sou por ter isso todo os domingos com "mi papá" ao lado. É desses costumes que vão muito mais além do que simplesmente fazê-lo: sente-se. Pertencer a este pedaço de chão que chamo de Futuro (outros tanto chamam de América Latina, e outros, aqueles que possuem a arrogância peculiar de nos olhar de cima, chamam de terceiro mundo) é poder observar e vivenciar a diversidade contínua de raças, cores e amores. Contrariando uma sociedade que prega que ser igual é ser mais feliz, digo que minha vida pertence a este lugar, que a vontade de caminhar por trechos desta América é infinitamente maior do que visitar aqueles que um dia, com armas, vieram para cá pregar seu estilo de vida.

Parece que gostamos desse fado carregado por tantos e tantos anos de sermos colônias. Antes, de exploração, hoje, de férias. Temos aqui, hoje e agora, a real chance de criar um novo mundo, um mundo curado desse vírus do consumismo, um mundo que dá chance igual para todos sentirem o gosto de serem livres e não dependentes do sinal 3G de nossos celulares, iPhones e iPads. Uma chance de escrever uma nova história, mostrar que temos muito mais do que bananas, maconha e alguns coqueiros para oferecer. Deus já abençoou esse pedaço com pouquíssimas catástrofes naturais e me recuso a pensar que isso seja coincidência. Vivemos em eterna luta, sim: luta de ideologias e maneiras de governar, mas tenho comigo a certeza que esse é o caminho do sucesso. A divergência gera opinião, que gera discurso, que gera ações, que voltam a gerar divergência. Quem um dia pensou que a Bolívia seria governada por um descendente indígena ou que as mulheres assumiriam dois dos maiores poderes das terras banhadas pelo Rio da Prata? Se eles mais acertam do que erram ou vice-versa, cabe a nós enxergar. Eles dizem que não gostamos da democracia. Não. Não gostamos da democracia que nos oferecem, enlatada e enviada em containers onde "quien tiene mas plata tiene dos votos".

Até quando gostaremos de ser os rabiscos daqueles do Norte? E mais: desde quando o rabisco veio antes da arte final? Vamos gostar de ser eternamente cópias infelizes e mal geradas daqueles que um dia nos prometeram um mundo melhor? Não, não. A verdade é que estamos aqui para mostrar que podemos sorrir sem os dentes manchados de petróleo. Que delícia poder viver sem precisar necessariamente "passar 2 ou 3 meses na Paris, EUA ou o caralho A4" para ser mais feliz. Só nos falta uma vontade de nos conhecermos melhor, oportunidade para ler sobre a história latino-americana e coragem para pegar a mochila e entender que a Venezuela é logo ali.

É, sempre gostei mais do doce de leite uruguaio do que o matinal bacon com ovos.

Guilherme Vilaggio Del Russo