sábado, 9 de agosto de 2008

Sem justificativas

E daí que eu ainda levanto cedo, que calço meu tênis as seis da manhã, visto uma camiseta amarelada e caminho atrás de um ano de atraso naquela que deveria já ser a minha antiga escola? Eu não ligo a mínima para o que pensa aquele monte de aluno que está na sua chance certa. Tá, talvez eu até sinta alguma inveja medíocre, insignificante. Pode até ser que as comparações com meu irmão mais velho - que realmente existem - e aqueles olhares de decepção que meus pais despejam em cima de mim sejam exagerados pela minha cabeça, alguma medida desregulada de desconfiança. Ou, quem sabe, o inferno de olhar para o espelho e se decepcionar. Depois do almoço eu sinto a prévia do sabor que teria aquele que seria o meu futuro. Isso mesmo, aquele que deixei escapar pelas mãos, que escapou com as cochiladas, com a desilusão de se achar adolescente de mais para levar alguma coisa a sério. Vou pulando a partir daí, de galho em galho, sonhando o sonho dos outros, porque até a intimidade com o meu, eu fiz questão de perder. Mas pode deixar que eu o encontro de novo. O objetivo é aquele que eu rabisquei bem grande na porta do armário, para me encher de fé sem religião, de gana toda vez que troco de roupas, toda vez que vou sair de casa.
E daí que a fumaça faz mal, que intope os meus pulmões, que amarela os meus dentes? A falta de aventura é o que mais provoca deslizes e acentua a ausência da prática. Não quero justificar um vício com a possível falta de sorte que alguém pode ter morrendo em um acidente. Simplesmente não quero justificar meu vício. Podem acreditar que ele supre uma falha na minha personalidade, que é algum tipo de adereço, ou até mesmo culpa da ansiedade. E se for, que seja.
Qual a quantidade necessária de perigo para uma pessoa se sentir de verdade viva? É algo que não se mede, e querem controlar muito a nossa vida - a minha vida. E se eu resolver arriscar o meu oxigênio? Aposto sim, aposto que vai chover amanhã, aposto que vou enjoar de muitas pessoas, e aposto que posso estruturar meu futuro em um castelinho de cartas de baralho. E se por acaso desmoronar, a gente tenta algo novo. As coisas vivem mudando. Então me diz, porque seria diferente para mim?

Milena Lieto Samczuk

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