terça-feira, 11 de março de 2008

Empoeirado

Todos os dias eu pintava meu sorriso de amarelo. O cigarro que eu acendia a cada manhã se agarrava aos meus dentes. Eu despertava com uma dor de cabeça chata e incontrolável, era o ciúme me alfinetando. Ele desenhava maluquices para os meus olhos e eu coloria com ódio.Você foi meu ensaio. Foi ter o céu e não ter nada. Tentando ignorar o seu melhor, encontrei a parte mais podre de mim. E já que o meu melhor sempre quis te acompanhar, deixei que fosse.Era noite quando senti todos os ossos se quebrarem, furando alguma ponta da minha cabeça. Logo depois de eu ter colocado todo o seu peso dentro de uma caixa pequena. Aliviei meus ombros e cobri a poeira acumulada em cima do guarda-roupa. Com o tempo, você se cobriria de pó também; com o tempo, você se esconderia no passado, e ele te mancharia com o esquecimento. Aprendi a andar mesmo sem equilíbrio, seguindo sua linha reta, rabiscada de giz no asfalto. Você riscou e os meus pés a apagaram. Agora não lembro o caminho de volta para os seus braços, mas acredite, não estou perdida.

Milena Lieto Samczuk

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