terça-feira, 4 de março de 2008

Tempo

Quanto dura a dor? Quanto dura o som, o amargo na boca e a imagem de um pensamento?
O tempo não respeita, ignora o nosso humor. É sensação, incalculável.
De tentar aprisioná-lo em números, gritamos a nossa escravidão perpétua. Criamos a maior distância de todas. Mimamos uma criança que contradiz às normas das nossas vontades. Quando ralentado vira o tédio, tão doloroso quanto uma súplica mal ouvida. Mas quando apressado é ladrão, roubando seu rosto jovem dos meus olhos, decompondo sentimentos e como uma traça desfazendo épocas, igual o asfalto que desgasta a sola do sapato. Um reflexo inverso do que quero, alheio aos meus movimentos. É uma esteira correndo, desprezando as pernas cansadas, arrasta qualquer um. As vezes aparece como o vento, sem cor ou forma, nos fazendo sentir o calor dos dias e o frio rigoroso dos longos anos. Há segundos mais demorados que semanas, e meses mais curtos que minutos.
Mesmo presa, prometo que por você, vou afogar meu passado, atravessar o presente e te colocar no futuro, no meu futuro.

Milena Lieto Samczuk

Um comentário:

. mye disse...

se cada texto seu que eu leio, fosse seguido, acho que seria bem mais paciente diante dos acontecidos.