E olhando pra aquele rapaz, de seus 30 anos, no chão, pernas cruzadas, rezando e agradecendo pelo arroz e feijão, me senti incomodado por reclamar que ainda era terça-feira e a semana ainda estava começando. Pra ele, já era terça-feira. Que eu teria de ir a faculdade, e que aquele maldito restaurante que não tinha azeite. “Vida difícil!”. Pobre mortal. Eu, no caso. Certas coisas nos aparecem como mensagens, basta termos os olhares atentos a isso.
No meio de tanta gente, tantos olhares e passos apressados, fixei minha atenção ao rapaz e sua oração baixa, silenciada por um multidão com pressa de andar e pra viver. Ele reza porque sabe que talvez amanhã a história seja diferente e que a fome possa ser sua má companhia. Ele sabe que aquela marmita traz muito mais do que a chave pra fome. Traz esperança.
No mais, me senti menos com toda a devoção daquele rapaz. Não pela devoção dele, mas pela minha “não-devoção”. Lembrei que me esqueço de agradecer por tudo que tenho e que graças a Deus me possibilita a oportunidade de procurar em mais de um restaurante, o azeite que me satifaz.
Ele pedia dinheiro e ajuda mas na verdade quem lhe deve um muito obrigado sou eu. Seu gesto foi algo como um TCC ilustrativo com o título “Futilidade e Estupidez – Capítulo 1”, para que eu possa aprender. Espero não ter que ler o volume dois.
Vi que ás vezes a gente reclama de barriga cheia. E que ele reza de barriga vazia.
Guilherme Vilaggio Del Russo
2 comentários:
A última frase foi um soco na cara e um pontapé no fígado. Mas, tente entender, delrusso. Ainda nos sentiremos muitas e muitas mais vezes futéis e estupidos. Enquando houver desigualdade haverá estupidez - fato.
dura e pura realidade.
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