quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Dissabor

Sei que praça não tem gosto, mas aquela parecia deliciosa. Atravesso ela todos os dias, e só hoje ao notar que os bancos - muito bonitos, é verdade - não tinham encosto, me senti bastante atraída pelas mesinhas de madeira da cafeteria de paredes de vidro. Confesso a vergonha, e só comprei um café para poder me sentar alí. A brisa descontraída flertava com a sombra fresca, e essa me pedia um pouco de leitura. Tratando-se de um livro pequeno, de capa azul claro, com uma sinopse bastante interessante, insisti em lê-lo já sabendo que ele não consegue prender meus olhos, continuei pelo tamanho do carinho que guardo por quem me indicou. Mas as palavras complicadas e muito bem escolhidas logo me perderam para a caneta e o restinho de papel que carrego na bolsa.
Hoje saí de casa com o sangue quente de discussão, quase chorando de raiva, minha caligrafia ainda sofre por consequência. Porém, agora estou calma. Sentados a minha frente, me divertem um casal de alemães conversando, mesmo assim, não me livrei do tédio. Nesses últimos dias tenho me feito de assassina só para matar o tempo. E essa manhã só valeu pelo gostinho de mantecal que me sobrou na boca. Juro que se soubesse que esse café é tão bom, teria começado a freqüentar aqui a mais tempo.
Ao telefone, na noite anterior, prometi ao meu amigo que lhe escreveria uma lista das coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer, e ele me faria o mesmo. Anotei uns vinte itens que apesar de muito atrativos me enchem de preguiça. Sabe, as vezes acho que o desânimo implora para que eu fiquei sem fazer nada, e me faz querer justamente isso. Então, pra que lista?

Milena Lieto Samczuk

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Intervalo

Perdi uma consulta, um sonho que esqueci dentro de qualquer gaveta e boa parte da minha alegria que ficou no ensino médio - essa última eu ainda recupero. Desisti muito do curso, do curso da minha vida. No meio da ponte eu peguei no sono, quando levantei era tarde demais.
Malditos comprimidos! Me atrasavam, comprimiam minha energia ao tamanho de uma ervilha. Eu faltava estando presente, com a cabeça sempre mergulhada na carteira, sufocada em um apartamento pequeno confundindo as minhas vontades utópicas. Duas famílias diferentes separadas apenas por uma parede fina de concreto. Hoje escolhi morar com a realidade de pés no chão. Eu devia ter me mudado a muito mais tempo.
- Mi, acorda! Vamos descer pro intervalo.

Milena Lieto Samczuk

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Apressado...

Como conseqüência inevitável de viver em São Paulo, tornei-me apressado demais. Apressado até mesmo no meu andar tranqüilo, característica tão presente em mim. Para nós, paulistanos, as horas passam mais depressa, assim como o que acontece com em nossas vidas. O gesto que eu deixei para ontem já não me cabe mais hoje, ela já não se faz necessário. Até meus sapatos andam mais desgastados que normalmente e me pedem um descanso. Mas, além de apressado, ando meio teimoso.

“A pressa é inimiga da perfeição” é um ditado fora de moda para mim. Hoje, tomo ações que só vão se mostrar se foram corretas ou erradas, daqui para frente. Ando apressado e mesmo assim, sou escravo do futuro. Ando me apressando para conhecer o que não se escolhe hora certa para acontecer. Talvez seja a hora de puxar o freio de mão.

“Mal entendi ... do” que falou uma vez meu pai, quando me disse que “Tem certas coisas que a gente não escolhe tempo para acontecer, elas acontecem” e algumas delas simplesmente acontecem na hora errada, bagunçada da nossa vida. Ou acontecem e a gente não queria. Mas acho que tudo na vida tem seu tempo, e quem não precisa de tempo? O tempo também pede tempo, e a partir de agora, eu lhe dou.

"Mal entendi… do" que falou outra grande pessoa para mim, quando me disse “La vida és hoy y hay que vivir-lá intensamente.” Logo eu, que vivo brincando com as palavras, escolho o pior significado delas nesta frase, só aquela que me convinha para meu próprio bem estar.
Ando apressando pés e o coração e hoje eles me pediram um tempo. Tem horas que meus sapatos pedem uma estadia maior nas prateleiras. E o coração, batidas de 80 por minuto.

Preciso apressar-me em deixar de ser assim, tão apressado…

Guilherme Vilaggio Del Russo

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Será assim só esperança?

Mais uma vez a sorte é lançado nesse joguinho de dados que se chama Vida. Tá tudo tão escuro lá fora, o que contrasta um pouco com meu coração quente, que bate agora mais forte. É o mesmo coração que diz ( estranhamente ), “Vamos com calma”, ao que sem demora, eu respondo “Porque não?Deixe-me enganar”.
Acho que todos nós, seres inteligentes e óbvios que somos, sabemos que é impossível viver somente com uma só escova de dentes no banheiro...

Mais uma vez, minhas mãos se sentiram reconfortadas no encontro com outras e hoje eu volto mais feliz para casa e com a sensação do dever cumprido. Do dever de estar apto a sentir e viver certas mudanças que antes me causavam medo, do dever de nunca desistir de ser feliz. Até porque, só vamos encontrar a felicidade se estarmos dispostos a procurá-la. E neste final de dia, abriu-se um sorriso sincero em meu rosto, o que mostra que pode até chover lá fora, mas abre-se um nascer do sol aqui dentro. Se este sol vai durar dias, meses, anos, eu já não sei, é querer saber demais. Tem coisas que não se explica, vivê-se e ponto final.
Mais uma vez fiz de uma blusa, um cobertor para dois. E não me sinto nem um pouco culpado por isso.


Guilherme Vilaggio Del Russo

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Permitam-se!

Hoje de manhã, quando peguei o ônibus-nosso-de-cada-dia, ele já estava mais cheio que o habitual, o que me mostrou que o ano realmente começou, apesar de eu já ter riscado 42 dias do meu novo calendário.

Juntos com os riscos no calendário, o lápis pede para que eu escreva uma palavra, para ser mais justo, um verbo que vai resumir este 2008: permitir.É isso mesmo. Chega de pudores, chega de ações que ficam só no campo dos pensamentos!

Me permito por exemplo, acordar de mau humor e esticar meu horário de almoço. Não é todo dia que você quer trabalhar, e nem por isso você deve-se sentir um má pessoa. Permito-me ficar triste por 2 ou 3 dias, mas somente dentro de um mês. Não quero forçar sorrisos. Me permito ser menos discreto e sair da sala da faculdade quando quiser. Não vou me lembrar das aulas sobre Fotografia, mas certamente das conversas no bar mais próximo. Ou alguém se lembra das notas da escola?

Me permito bagunçar meu quarto, sem me preocupar, mesmo que isso provoque a ira de meus pais. Aliás, também me permito argumentar com eles quando necessário. Eles são seres humanos e também erram. Não quero mais pessoas descartáveis! Me permito também ME bagunçar. Tenho o direito de estar confuso também e vou me valer disto este ano. Me permito ir ou não com sua cara, e também não tenho obrigação de te agradar. Me permito ficar mais rouco. Tem certas emoções na vida que só se sentem uma vez na vida e é preciso espernear mesmo.

Me permito dever no banco, um mês ao ano, mas que o mês seguinte passe voando. Não quero fazer minha barba toda semana, nem usar roupa social. Afinal, sou reconhecido pelo meu trabalho ou pela minha aparência? Ano passado, senti saudade dos meus pais, então me permito passar uns 2 ou 3 dias só com eles, curtindo alguns poucos bons momentos em família. Permito-me brincar mais com meu cachorro e juro!, prometo me permitir ser menos emburrado. Vocês podem não acreditar, mais me permito confiar mais na política brazuca, “ só de sacanagem!” só para ir contra a corrente, não é possível que tudo seja tão ruim neste mundo , e ponto final. Não importa o que ninguém quiser argumentar, em um Brasil melhor, eu vou sempre acreditar.

Puxa, permito tanta coisa que e ao mesmo não quero pedir permissão para nada. Vou simplesmente ir lá e vou fazer. Mas por fim, permito-me ser feliz, ser impossível, ser um pouquinho mais. A vida é hoje, o tempo é o agora e a gente nunca sabe do amanhã. O gesto que eu deixei para ontem, já não me cabe mais hoje. Portanto, permito-me ser e estar pra sempre neste 2008.
Permitam-se.


Guilherme Vilaggio Del Russo

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Imaginem um lugar...

Imaginem um lugar com restrição de entrada. Imaginem um lugar onde sejamos somente coadjuvantes de um contexto que não para de se atualizar cada dia mais e mais rapidamente. Neste lugar, não existe ganância, nem segundas ( terceiras e por aí vai..) intenções, sem preconceitos, onde a regra essencial e primordial é ser você mesmo. Sem pudor, sem máscaras, sem limites, sem..pre!

Um lugar onde você deixaria de lado a opinião dos outros e se preocuparia tão somente com o seu bem estar. Ah, imaginem um lugar onde vocês não precisam colocar roupas que a sociedade exige que utilizemos, onde suas contas ficariam em segundo plano e o programa da vez seria o trabalho voluntário!Um lugar para poucos, para estranhos, para raros. Respiraríamos boas energias, e o bom humor teria sempre lugar no coração das pessoas. Um lugar de pessoas de livros nas mãos, de opiniões formadas, incomodadas com o que não faz sentido neste mundo ridículo e mesquinho de hoje, com suas idéias e ideais. As piores armas deste lugar de poucos, seriam nossas próprias palavras, assim como delas viriam as mais belas lindas canções e textos.E só.

Aqueles “enfeitados” de fingimento e meias-verdades não entrariam. Os sonhadores seriam os porteiros deste lugar e os verdadeiros artistas! Um lugar onde não existem melhores, nem piores, todos seríamos uma coisa só, num único lugar. Lá não importa o que você é ( ou finge ser), importa o que você traz de verdade por dentro de suas palavras, ações e sentimentos.
Mas pensar neste lugar também me causa uma ponta de tristeza. Tristeza de pensar que ele só existe dentro um texto num pedaço de papel. Que ele anda tão distante de nós...

Pensem: você é apto a entrar neste lugar “Só para loucos e Só para raros?”.
Façamos valer a pena nossa entrada!


Guilherme Vilaggio Del Russo

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Um Tanto Assim-Assado

Me olho e vejo usando novamente a camisa que você tanto gostava. Estou usando o perfume que te agrada e lustrei meus sapatos para que aquela habitual sujeira não lhe incomode. Continuo pensando no “seu achar”, mas ao mesmo tempo te quero longe de mim. Ontem, pela madrugada, lutei contra meu orgulho que insistia para que eu não mexesse em sentimentos antigos. Mas fui melhor ( ou pior ) que isso e mexi. Bagunçei mesmo.

Enfim, hoje é o dia te mostrar que mudei, quando na verdade ainda sou o mesmo. Continuo tentando lhe agradar, não só usando a mesma camisa, mas também me usando de sorrisos e planos que saem da minha boca simplesmente para te entreter. Hoje, sinto uma leve frustração de falar tanto no futuro e continuar “brincando” com o que já não faz parte do meu dia-a-dia. Estou mal por ver que estou parado e você cada vez mais distante e mais no futuro.

Cá, estou novamente, vivendo o que já não tem sentido, cá estou eu vivendo o meu passado.
Mas, não há de ser nada, eu sei que o futuro está me acenando lá na frente. É só eu que não quero lhe responder. Por enquanto.


Guilherme Vilaggio Del Russo